quarta-feira, 25 de abril de 2012

Aqueles dois - Caio Fernando Abreu



(História de aparente mediocridade e repressão)


Para Rofran Fernandes:

"I announce adhesiveness,

I say it shall be limitless,

unloosen il.

I say you shall yet find the

friend youwere looking for."

(Walt Whitman: So Long!)



A verdade é que não havia mais ninguém em volta. Meses depois, não no começo, um deles diria que a repartição era como "um deserto de almas". O outro concordou sorrindo, orgulhoso, sabendo-se excluído. E longamente, entre cervejas, trocaram então ácidos comentários sobre as mulheres mal-amadas e vorazes, os papos de futebol, amigo secreto, lista de presente, bookmaker, bicho, endereço de cartomante, clips no relógio de ponto, vezenquando salgadinhos no fim do expediente, champanha nacional em copo de plástico. Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra — talvez por isso, quem sabe? Mas nenhum se perguntou.

Não chegaram a usar palavras como "especial", "diferente" ou qualquer coisa assim. Apesar de, sem efusões, terem se reconhecido no primeiro segundo do primeiro minuto. Acontece porém que não tinham preparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo para tentar entendê-las. Não que fossem muito jovens, incultos demais ou mesmo um pouco burros. Raul tinha um ano mais que trinta; Saul, um menos. Mas as diferenças entre eles não se limitavam a esse tempo, a essas letras. Raul vinha de um casamento fracassado, três anos e nenhum filho. Saul, de um noivado tão interminável que terminara um dia, e um curso frustrado de Arquitetura. Talvez por isso, desenhava. Só rostos, com enormes olhos sem íris nem pupilas. Raul ouvia música e, às vezes, de porre, pegava o violão e cantava, principalmente velhos boleros em espanhol. E cinema, os dois gostavam.

Passaram no mesmo concurso para a mesma firma, mas não se encontraram durante os testes. Foram apresentados no primeiro dia de trabalho de cada um. Disseram prazer, Raul, prazer, Saul, depois como é mesmo o seu nome? sorrindo divertidos da coincidência. Mas discretos, porque eram novos na firma e a gente, afinal, nunca sabe onde está pisando. Tentaram afastar-se quase imediatamente, deliberando limitarem-se a um cotidiano oi, tudo bem ou, no máximo, às sextas, um cordial bom fim de semana, então. Mas desde o princípio alguma coisa — fados, astros, sinas, quem saberá? conspirava contra (ou a favor, por que não?) aqueles dois.

Suas mesas ficavam lado a lado. Nove horas diárias, com intervalo de uma para o almoço. E perdidos no meio daquilo que Raul (ou teria sido Saul?) chamaria, meses depois, exatamente de "um deserto de almas", para não sentirem tanto frio, tanta sede, ou simplesmente por serem humanos, sem querer justificá-los — ou, ao contrário, justificando-os plena e profundamente, enfim: que mais restava àqueles dois senão, pouco a pouco, se aproximarem, se conhecerem, se misturarem? Pois foi o que aconteceu. Tão lentamente que mal perceberam.


II

 
Eram dois moços sozinhos. Raul tinha vindo do norte, Saul tinha vindo do sul. Naquela cidade, todos vinham do norte, do sul, do centro, do leste — e com isso quero dizer que esse detalhe não os tornaria especialmente diferentes. Mas no deserto em volta, todos os outros tinham referenciais, uma mulher, um tio, uma mãe, um amante. Eles não tinham ninguém naquela cidade — de certa forma, também em nenhuma outra —, a não ser a si próprios. Diria também que não tinham nada, mas não seria inteiramente verdadeiro.

Além do violão, Raul tinha um telefone alugado, um toca-discos com rádio e um sabiá na gaiola, chamado Carlos Gardel. Saul, uma televisão colorida com imagem fantasma, cadernos de desenho, vidros de tinta nanquim e um livro com reproduções de Van Gogh. Na parede do quarto de pensão, uma outra reprodução de Van Gogh: aquele quarto com a cadeira de palhinha parecendo torta, a cama estreita, as tábuas do assoalho, colocado na parede em frente à cama. Deitado, Saul tinha às vezes a impressão de que o quadro era um espelho refletindo, quase fotograficamente, o próprio quarto, ausente apenas ele mesmo. Quase sempre, era nessas ocasiões que desenhava.

Eram dois moços bonitos também, todos achavam. As mulheres da repartição, casadas, solteiras, ficaram nervosas quando eles surgiram, tão altos e altivos, comentou, olhos arregalados, uma das secretárias. Ao contrário dos outros homens, alguns até mais jovens, nenhum tinha barriga ou aquela postura desalentada de quem carimba ou datilografa papéis oito horas por dia.

Moreno de barba forte azulando o rosto, Raul era um pouco mais definido, com sua voz de baixo profundo, tão adequada aos boleros amargos que gostava de cantar. Tinham a mesma altura, o mesmo porte, mas Saul parecia um pouco menor, mais frágil, talvez pelos cabelos claros, cheios de caracóis miúdos, olhos assustadiços, azul desmaiado. Eram bonitos juntos, diziam as moças. Um doce de olhar. Sem terem exatamente consciência disso, quando juntos os dois aprumavam ainda mais o porte e, por assim dizer, quase cintilavam, o bonito de dentro de um estimulando o bonito de fora do outro, e vice-versa. Como se houvesse entre aqueles dois, uma estranha e secreta harmonia.

III


Cruzavam-se, silenciosos mas cordiais, junto à garrafa térmica do cafezinho, comentando o tempo ou a chatice do trabalho, depois voltavam às suas mesas. Muito de vez em quando, um pedia um cigarro ao outro, e quase sempre trocavam frases como tanta vontade de parar, mas nunca tentei, ou já tentei tanto, agora desisti. Durou tempo, aquilo. E teria durado muito mais, porque serem assim fechados, quase remotos, era um jeito que traziam de longe. Do norte, do sul.

Até um dia em que Saul chegou atrasado e, respondendo a um vago que que houve, contou que tinha ficado até tarde assistindo a um velho filme na televisão. Por educação, ou cumprindo um ritual, ou apenas para que o outro não se sentisse mal chegando quase às onze, apressado, barba por fazer, Raul deteve os dedos sobre o teclado da máquina e perguntoü: que filme? Infâmia, Saul contou baixo, Audrey Hepburn, Shirley MacLayne, um filme muito antigo, ninguém conhece. Raul olhou-o devagar, e mais atento, como ninguém conhece? eu conheço e gosto muito. Abalado, convidou Saul para um café e, no que restava daquela manhã muito fria de junho, o prédio feio mais que nunca parecendo uma prisão ou uma clínica psiquiátrica, falaram sem parar sobre o filme.

Outros filmes viriam, nos dias seguintes, e tão naturalmente como se de alguma forma fosse inevitável, também vieram histórias pessoais, passados, alguns sonhos, pequenas esperança e sobretudo queixas. Daquela firma, daquela vida, daquele nó, confessaram uma tarde cinza de sexta, apertado no fundo do peito. Durante aquele fim de semana obscuramente desejaram, pela primeira vez, um em sua quitinete, outro na pensão, que o sábado e o domingo caminhassem depressa para dobrar a curva da meia-noite e novamente desaguar na manhã de segunda-feira quando, outra vez, se encontrariam para: um café. Assim foi, e contaram um que tinha bebido além da conta, outro que dormira quase o tempo todo. De muitas coisas falaram aqueles dois nessa manhã, menos da falta que sequer sabiam claramente ter sentido.

Atentas, as moças em volta providenciavam esticadas aos bares depois do expediente, gafieiras, discotecas, festinhas na casa de uma, na casa de outra. A princípio esquivos, acabaram cedendo, mas quase sempre enfiavam-se pelos cantos e sacadas para contar suas histórias intermináveis. Uma noite, Raul pegou o violão e cantou Tú Me Acostumbraste. Nessa mesma festa, Saul bebeu demais e vomitou no banheiro. No caminho até os táxis separados, Raul falou pela primeira vez no casamento desfeito. Passo incerto, Saul contou do noivado antigo. E concordaram, bêbados, que estavam ambos cansados de todas as mulheres do mundo, suas tramas complicadas, suas exigências mesquinhas. Que gostavam de estar assim, agora, sós, donos de suas próprias vidas. Embora, isso não disseram, não soubessem o que fazer com elas.

Dia seguinte, de ressaca, Saul não foi trabalhar nem telefonou. Inquieto, Raul vagou o dia inteiro pelos corredores subitamente desertos, gelados, cantando baixinho Tú Me Acostumbraste, entre inúmeros cafés e meio maço de cigarros a mais que o habitual.

IV

Os fins de semana tornaram-se tão longos que um dia, no meio de um papo qualquer, Raul deu a Saul o número de seu telefone, alguma coisa que você precisar, se ficar doente, a gente nunca sabe. Domingo depois do almoço, Saul telefonou só para saber o que o outro estava fazendo, e visitou-o, e jantaram juntos a comidinha mineira que a empregada deixara pronta sábado. Foi dessa vez que, ácidos e unidos, falaram no tal deserto, nas tais almas. Há quase seis meses se conheciam. Saul deu-se bem com Carlos Gardel, que ensaiou um canto tímido ao cair da noite. Mas quem cantou foi Raul: Perfídia, La Barca e, a pedido de Saul, outra vez, duas vezes, Tú Me Acostumbraste. Saul gostava principalmente daquele pedacinho assim sutil llegaste a mí como una tentación llenando de inquietud mi corazón. Jogaram algumas partidas de buraco e, por volta das nove, Saul se foi.

Na segunda, não trocaram uma palavra sobre o dia anterior. Mas falaram mais que nunca, e muitas vezes foram ao café. As moças em volta espiavam, às vezes cochichando sem que eles percebessem. Nessa semana, pela primeira vez almoçaram juntos na pensão de Saul, que quis subir ao quarto para mostrar os desenhos, visitas proibidas à noite, mas faltavam cinco para as duas e o relógio de ponto era implacável. Saíam e voltavam juntos, desde então, geralmente muito alegres. Pouco tempo depois, com pretexto de assistir a Vagas Estrelas da Ursa na televisão de Saul, Raul entrou escondido na pensão, uma garrafa de conhaque no bolso interno do paletó. Sentados no chão, costas apoiadas na cama estreita, quase não prestaram atenção no filme. Não paravam de falar. Cantarolando Io Che Non Vivo, Raul viu os desenhos, olhando longamente a reprodução de Van Gogh, depois perguntou como Saul conseguia viver naquele quartinho tão pequeno. Parecia sinceramente preocupado. Não é triste? perguntou. Saul sorriu forte: a gente acostuma.

Aos domingos, agora, Saul sempre telefonava. E vinha. Almoçavam ou jantavam, bebiam, fumavam, falavam o tempo todo. Enquanto Raul cantava — vezenquando El Día Que Me Quieras, vezenquando Noche de Ronda —, Saul fazia carinhos lentos na cabecinha de Carlos Gardel, pousado no seu dedo indicador. Às vezes olhavam-se. E sempre sorriam. Uma noite, porque chovia, Saul acabou dormindo no sofá. Dia seguinte, chegaram juntos à repartição, cabelos molhados do chuveiro. As moças não falaram com eles. Os funcionários barrigudos e desalentados trocaram alguns olhares que os dois não saberiam compreender, se percebessem. Mas nada perceberam, nem os olhares nem duas ou três piadas. Quando faltavam dez minutos para as seis, saíram juntos, altos e altivos, para assistir ao último filme de Jane Fonda.

V

Quando começava a primavera, Saul fez aniversário. Porque achava seu amigo muito solitário, ou por outra razão assim, Raul deu a ele a gaiola com Carlos Gardel. No começo do verão, foi a vez de Raul fazer aniversário. E porque estava sem dinheiro, porque seu amigo não tinha nada nas paredes da quitinete, Saul deu a ele a reprodução de Van Gogh. Mas entre esses dois aniversários, aconteceu alguma coisa.

No norte, quando começava dezembro, a mãe de Raul morreu e ele precisou passar uma semana fora. Desorientado, Saul vagava pelos corredores da firma esperando um telefonema que não vinha, tentando em vão concentrar-se nos despachos, processos, protocolos. Á noite, em seu quarto, ligava a televisão gastando tempo em novelas vadias ou desenhando olhos cada vez mais enormes, enquanto acariciava Carlos Gardel. Bebeu bastante, nessa semana. E teve um sonho: caminhava entre as pessoas da repartição, todas de preto, acusadoras. À exceção de Raul, todo de branco, abrindo os braços para ele. Abraçados fortemente, e tão próximos que um podia sentir o cheiro do outro. Acordou pensando mas ele é que devia estar de luto.

Raul voltou sem luto. Numa sexta de tardezinha, telefonou para a repartição pedindo a Saul que fosse vê-lo. A voz de baixo profundo parecia ainda mais baixa, mais profunda. Saul foi. Raul tinha deixado a barba crescer. Estranhamente, ao invés de parecer mais velho ou mais duro, tinha um rosto quase de menino. Beberam muito nessa noite. Raul falou longamente da mãe — eu podia ter sido mais legal com ela, disse, e não cantou. Quando Saul estava indo embora, começou a chorar. Sem saber ao certo o que fazia, Saul estendeu a mão e, quando percebeu, seus dedos tinham tocado a barba crescida de Raul. Sem tempo para compreenderem, abraçaram-se fortemente. E tão próximos que um podia sentir o cheiro do outro: o de Raul, flor murcha, gaveta fechada; o de Saul, colônia de barba, talco. Durou muito tempo. A mão de Saul tocava a barba de Raul, que passava os dedos pelos caracóis miúdos do cabelo do outro. Não diziam nada. No silêncio era possível ouvir uma torneira pingando longe. Tanto tempo durou que, quando Saul levou a mão ao cinzeiro, o cigarro era apenas uma longa cinza que ele esmagou sem compreender.

Afastaram-se, então. Raul disse qualquer coisa como eu não tenho mais ninguém no mundo, e Saul outra coisa qualquer como você tem a mim agora, e para sempre. Usavam palavras grandes — ninguém, mundo, sempre — e apertavam-se as duas mãos ao mesmo tempo, olhando-se nos olhos injetados de fumo e álcool. Embora fosse sexta e não precisassem ir à repartição na manhã seguinte, Saul despediu-se. Caminhou durante horas pelas ruas desertas, cheias apenas de gatos e putas. Em casa; acariciou Carlos Gardel até que os dois dormissem. Mas um pouco antes, sem saber por quê, começou a chorar sentindo-se só e pobre e feio e infeliz e confuso e abandonado e bêbado e triste, triste, triste. Pensou em ligar para Raul, mas não tinha fichas e era muito tarde.

Depois, chegou o Natal, o Ano-Novo que passaram juntos, recusando convites dos colegas de repartição. Raul deu a Saul uma reprodução do Nascimento de Vênus, que ele colocou na parede exatamente onde estivera o quarto de Van Gogh. Saul deu a Raul um disco chamado Os Grandes Sucessos de Dalva de Oliveira. O que mais ouviram foi Nossas Vidas, prestando atenção no pedacinho que dizia até nossos beijos parecem beijos de quem nunca amou.

Foi na noite de trinta e um, aberta a champanhe na quitinete de Raul, que Saul ergueu a taça e brindou à nossa amizade que nunca nunca vai terminar. Beberam até quase cair. Na hora de deitar, trocando a roupa no banheiro, muito bêbado, Saul falou que ia dormir nu. Raul olhou para ele e disse você tem um corpo bonito. Você também, disse Saul, e baixou os olhos. Deitaram ambos nus, um na cama atrás do guarda-roupa, outro no sofá. Quase a noite inteira, um conseguia ver a brasa acesa do cigarro do outro, furando o escuro feito um demônio de olhos incendiados. Pela manhã, Saul foi embora sem se despedir para que Raul não percebesse suas fundas olheiras.


Quando janeiro começou, quase na época de tirarem férias — e tinham planejado, juntos, quem sabe Parati, Ouro Preto, Porto Seguro — ficaram surpresos naquela manhã em que o chefe de seção os chamou, perto do meio-dia. Fazia muito calor. Suarento, o chefe foi direto ao assunto. Tinha recebido algumas cartas anônimas. Recusou-se a mostrá-las. Pálidos, ouviram expressões como "relação anormal e ostensiva", "desavergonhada aberração", "comportamento doentio", "psicologia deformada", sempre assinadas por Um Atento Guardião da Moral. Saul baixou os olhos desmaiados, mas Raul colocou-se em pé. Parecia muito alto quando, com uma das mãos apoiadas no ombro do amigo e a outra erguendo-se atrevida no ar, conseguiu ainda dizer a palavra nunca, antes que o chefe, entre coisas como a-reputação-de-nossa-firma, declarasse frio: os senhores estão despedidos.

Esvaziaram lentamente cada um a sua gaveta, a sala deserta na hora do almoço, sem se olharem nos olhos. O sol de verão escaldava o tampo de metal das mesas. Raul guardou no grande envelope pardo um par de olhos enormes, sem íris nem pupilas, presente de Saul, que guardou no seu grande envelope pardo, com algumas manchas de café, a letra de Tú Me Acostumbraste, escrita à mão por Raul numa tarde qualquer de agosto. Desceram juntos pelo elevador, em silêncio.

Mas quando saíram pela porta daquele prédio grande e antigo, parecido com uma clínica ou uma penitenciária, vistos de cima pelos colegas todos postos na janela, a camisa branca de um, a azul do outro, estavam ainda mais altos e mais altivos. Demoraram alguns minutos na frente do edifício. Depois apanharam o mesmo táxi, Raul abrindo a porta para que Saul entrasse. Ai-ai, alguém gritou da janela. Mas eles não ouviram. O táxi já tinha dobrado a esquina.

Pelas tardes poeirentas daquele resto de janeiro, quando o sol parecia a gema de um enorme ovo frito no azul sem nuvens no céu, ninguém mais conseguiu trabalhar em paz na repartição. Quase todos ali dentro tinham a nítida sensação de que seriam infelizes para sempre. E foram. *
 
*O conto acima foi publicado no livro "Morangos Mofados", Editora Brasiliense - São Paulo, 1982. Incluído entre "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século", seleção de Ítalo Moriconi, Editora Objetiva — Rio de Janeiro, 2000, pág. 439, de onde foi extraído.

No sofá dos Simpsons

A loja de móveis de Milão 56th Studio acabou de lançar uma linha de cadeiras inspirada em personagens com quem convivemos há alguns anos. As peças com elementos que lembram a família mais engraçada e que não envelhece (Bart Simpson está na mesma série há 21 anos…), Os Simpsons, exploram a principal característica física de cada personagem. De bater o olho já dá para saber quem é. Uma única cadeira destas já vai dar uma animada na sua sala com certeza.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Filme: A Árvore do Amor




Jing, uma inocente estudante do ginásio, é enviada para uma remota aldeia para “reeducação” durante a Revolução Cultural. Com seu pai preso como “direitista” e a família posta à margem, Jing sabe que seu futuro e de sua família dependem de como ela se comportará aos olhos das autoridades. Um movimento errado e suas vidas podem ser destruídas. Mas ela se apaixona por Sun, o filho de um General. Devido a diferença de suas posições sociais, o romance entre os dois é impensável e perigoso, mas a atração mútua é irresistível.



terça-feira, 17 de abril de 2012

Oração à Nossa Sra. do amor de uma mão só - Xico Sá

O amor sempre tem uma mão só, mão única, o resto é contramão e, de repente, acidentes, como diria Carl Solomon, meu dadaísta do Bronx predileto.
O amor tem uma mão só. E não estamos falando,amigo, daquela máxima do Woody Allen sobre a masturbação: seria a melhor forma de fazer amor com a pessoa que você mais ama.
Tratamos do amor mesmo, o dos pombinhos, na sua forma mais óbvia e verdadeira. Daí repito: o amor sempre tem uma mão só. Mesmo quando é correspondido, nunca o é por inteiro –sempre um ama mais do que o outro. Eis o grande suspense hitchcockiano da existência.
Daí esta oração para ser lida em voz alta, por você, macho ou fêmea, que se acha injustiçado(a), nós que nem Nossa Sra. desata:
Nossa Sra. dos que Amam Sozinho ou amam mais que o outro, perdoa-me pela insistência, nem mais é por tanto querê-la, é por deixar claro, moça que sopra das intimidades dessa oração, que só ela me faz passar da conta, perversa, me faz cair no abismo mais lindo do gozo sem volta, como naquele encosto de beira de estrada, como na rodovia estrangeira de Sam Shepard, crônicas de motel, simbora!
Nossa Sra. dos que só pensam nela, cotovelos lanhados de tanta espera, tantos sustos nas ruas, nos bares, “é ela!!!”, Nossa Sra. Dos Cotovelos da Surpresa e das janelas, tão gastos, cinzas, peles, dobras, e tanta fome de viver aqui dentro, megalomaníaco, épico, terá sido a força do desprezo???
Não creio, sr. Albero Moravia, meu guru romano de tantos conselhos amorosos.
É mesmo a paudurescência, nostalgia precoce das grandes histórias, o tempo inteiro, pensando, pensando, pensando, nela.
Os joelhos lanhados pela romaria, devoção e insistência. A santa padroeira que chora sangue na voz serena de Junio Barreto.
Nossa Sra. da Vida Alongada, Nossa Senhora da Yoga que deixa o corpo dela piscando na parte que me toca.
Amor demorado, anjo exterminador da alcova.
Amor por tê-la, rara.
Beijá-la delicadamente, como um católico que dissolve na boca uma hóstia, um evangélico que fala a língua de pentecostes, um judeu ortodoxo, como este aqui passa agora na frente do meu predinho antigo.
Amar por horas, riachinhos d´águas que não se sabem donde, cada cantinho dum mapa que se inventou só pra se perder depois, sentimento é a verdadeira bússola dum homem, perdido docemente lá embaixo, lá embaixo daquelas tuas vestes modernas que nunca te escondem.
Lua cheia, vida minguante.
Escuto “Le Déserteus”, do velho Boris Vian, ouviste?.
Nossa Senhora dos que sentem muito e amam sozinho, rogai por nós que recorremos a vós!
O amor é mesmo uma rua estreita, que mesmo com todo progresso e planejamento urbano de 2046, sempre terá uma mão só. Engarrafada. Sem saída.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

A Fresta - Nilton Rezende


Olho de céu, o menino escuta, varrendo o terreiro e sentindo a vassoura parar de repente. Olha de lado, num sobressalto; olha para trás, acima, e vê a prima segurando firme o cabo, enquanto se agacha. Segura o rosto dele, emoldurando-o com as duas mãos. Afasta-se um pouco, enquanto olha-o, tirando o seu rosto da sombra e lançando-o ao sol. Ele fecha os olhos, mas ela pede que os abra. Ele obedece, lento, as pálpebras trementes, a mulher à sua frente, metade do corpo recortado contra a luz, os braços estendidos e afagando sua cabeça: Parece um anjo. Recoloca-o então na zona de sombra e descanso, enquanto beija sua testa: Você tem olho de céu. Olha para o alpendre: Ele está cada dia mais lindo, prima.
E trabalhoso, a mãe fala e desce os degraus para abraçá-la. Aponta para o homem de costas, que tira os volumes da mala do carro: Grandão. A outra corre até o homem e abraça-o por trás, virando-o: A prima. Ele sorri, coloca o galão de vinho no ombro e caminha até os degraus: Tomar vinho. Nosso Senhor derrama sangue e a gente bebe vinho, fala e ri. A mulher dá-lhe um tapa nas costas e ri logo em seguida. Ele pára no último degrau, olha para trás: A beleza é de família? As duas gargalham e vão pegar as coisas do carro. Entram na casa.
A manhã inteira é a cozinha em preparações. No almoço, o menino toma suco de uva. Por enquanto você toma só isso, diz o homem e coloca o braço no ombro dele. Mais tarde você vai provar mais coisa, que tem muita delicia nesse mundo pra quem sabe apreciar, e ri e pisca para as mulheres.
Vocês deviam passar a noite aqui, a mãe fala. A prima diz que o homem vai trabalhar no sábado de manhã. Mas Sábado de Aleluia? E a outra fala que pra vigilante não tem feriado, no Sábado de Aleluia também se rouba. A mãe consente, dizendo logo depois que de qualquer jeito será uma pena, porque ninguém costuma aparecer no sítio, e é uma tristeza ficar sozinha ali.
Mas a gente tem a tarde toda pra se divertir, diz o homem, levantando-se e tirando a camisa. Vai à cozinha e volta com uma garrafa de vinho: Este é um pouquinho mais forte. A mãe toma de um gole o restante do vinho que está no copo e estende a mão: Então tô lascada. Ri. Tá nada, diz o homem, enchendo o copo dela. Estamos, diz a outra, gargalhando. In vino veritas!, diz o homem, levando o copo à boca. O vinho diz a verdade, explica às mulheres.
A mãe afasta a cadeira do menino, mandando-o ir catar as mangas caídas, levar as moles para o galinheiro e colocar as mais duras no cesto. E depois ir ver se alguma fruta-pão caiu do pé, no terreno depois do riacho. Deixe-as em cima da pedra e cobertas com folha, pra irem pegar depois; traga apenas duas. Diz isso e dá uma tossida, engasgada no riso por causa da dança que o homem faz agora, imitando o cabeleireiro da prima. Vai para o quarto e retorna envolto em um lençol como uma saia, uma toalha enrolada na cabeça. A mãe engasga-se e cospe o vinho na parede. A prima se levanta para lavar a parede, mas é repreendida: Hoje não! Aponta para o homem: Dança. Olha para o menino: Já voltou!?
Ele sai, em meio aos risos e gritos dos três. Cata as mangas, distribui-as entre o galinheiro e o cesto. Ao atravessar o riacho, escolhe um ângulo por onde veja a face refletida e olha um momento para si, buscando ver nos olhos a mesma cor do céu atrás de sua cabeça. A luz mostra-se em pequenos pontos por entre o cabelo, os cachos dourados.
Levanta-se, vai até as frutas-pão caídas. Passa as palmas das mãos na superfície crespa do fruto, esfrega-as, forçando quando no centro da palma. Aperta mais forte, e a base de uma das mãos afunda no lado podre do fruto, úmido e amarronzado, que estivera virado para o chão. Pega areia, esfrega os dorsos, as palmas; esfrega-os no mato. Recolhe as frutas caídas e coloca-as sobre a pedra ao pé do morro, numa pirâmide que logo resvala. Desiste do empreendimento e as dispõe uma ao lado da outra. Cobre-as com folhas verdes, que retira dos arbustos. Cobre-as lento, tentando ocultar toda a crespância esverdeada. Sobre as folhas, deita pedaços de galhos, uma fortaleza de ramos ocultando o tesouro.
Na volta, agacha-se mais uma vez no riacho, mas agora há um céu avermelhado, com línguas de fogo cortando as nuvens, uma fogueira por trás de seu cabelo, como se o próprio menino estando em chamas. Levanta-se. Acelera o passo.
À casa, subindo os degraus, escuta as risadas, mas agora mais baixas, vindo de dentro do quarto. Põe-se na ponta do pé e espia por uma frincha na janela. O homem beija e alisa com a língua o joelho de uma mulher de pernas abertas, enquanto toca a mão nas carnes em meio aos pêlos, esfregando os dedos e forçando-os na entrada. Ainda mexendo com os dedos, ele sobe a língua até os peitos dela e chupa-os. A mulher coloca a mão no negócio dele, que está duro. O menino encosta-se à parede, pressionando o corpo e esfregando-se. O homem deita-se e a mulher se agacha para tocar a língua no negócio dele. A prima é que toca a língua no negócio do homem e bota na boca-o, chupa-o. Tenha vergonha!, ele escuta alguém dizer, ao mesmo tempo em que sente algo bater-lhe na cabeça. Algo duro e frio que lhe deixa a testa úmida e agora morna. Algo morno escorre em seu rosto, enquanto desferem-lhe tapas seguidos, muito fortes, conjugados com a voz da mãe, que ora grita ora sussurra, como quando pára os tapas e aperta os cotovelos sobre as costas dele, forçando-os mais forte ao tomar seus cabelos e puxá-los, para voltar a gritar que ele tinha que ter vergonha, e que nem trouxe o que lhe pediu, então ele tenta dizer que esqueceu, mas o rosto, pressionado contra a areia, porque rolara pelos degraus, não lhe dá condição de articular as palavras, e em sua boca a frase limita-se apenas à sibilância das sílabas, conseguindo abrir-se num arfar quando a pressão diminui no mesmo instante em que ouve a prima gritar para parar com aquilo. Você vai matar o menino! A mãe anda trôpega até a lateral da casa, e vê-se apenas ela curvando-se, uma mão na barriga e outra parecendo que vai à boca, o corpo tremendo. Volta aliviada. O homem desce da casa trazendo uma bacia com água, uma toalha sobre o braço. A mãe olha para os dois: Desculpa, gente. Desculpa. Entra à casa. O homem coloca a bacia no chão, à frente do menino. Colhe da água com as mãos em concha, jogando-a sobre o rosto dele. Lava-o. Na bacia, o menino tenta ver os olhos e o céu, mas abre-os com dificuldade, e agora, na água suja de areia, todos são da mesma cor avermelhada. O homem enxuga seu rosto, leva-o ao banheiro, tira sua roupa. Despe-se também e banha-o. Enquanto o menino se enxuga, banha-se o homem. Ele é grande e forte, e o negócio tem muito cabelo e não está duro como quando a prima botou na boca. Enrola-se rápido na toalha. Fica observando o homem. Vá deitar, ele diz..

Enquanto se veste, ouve a mãe reclamar porque os dois têm de ir, e eles falam que têm de ir. Ouve o ruído do carro afastando-se, o ruído da mãe fechando portas, apagando luzes e indo para o quarto. Ele caminha e estaca em frente ao quarto dela. Ela percebe-o e, deitando-se, manda-o ir dormir. Ele não se movimenta. Fecha essa porta!, ela grita e levanta-se, batendo-a com brusquidão. Ele baixa os olhos. Pouco depois, encosta na fechadura o rosto intumescido, mirando por entre ela. Silencioso, pressiona o corpo contra a porta.

(conto do livro diabolô, Edufal, 2011).

segunda-feira, 9 de abril de 2012

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Lixo Extraordinário





SINOPSE:

O documentário mostra o contato do artista plástico Vik Muniz com os catadores de material reciclável do Aterro do Jardim Gramacho, maior da América Latina, localizado no Rio de Janeiro. A partir da experiência, surge um novo combustível criativo para Vik e, como contrapartida, os catadores diminuem sua distância com a arte e conseguem condições melhores de vida.

FICHA TÉCNICA:

Diretor: Karen Harley, João Jardim, Lucy Walker
Produção: Hank Levine, Angus Aynsley
Fotografia: Duda Miranda
Trilha Sonora: Moby, O Grivo
Duração: 90 min.
Ano: 2010
País: Brasil, Reino Unido
Gênero: Documentário
Cor: Colorido
Distribuidora: Downtown Filmes
Estúdio: O2 Filmes
Classificação: Livre

Maracatu Baque Alagoano - Tambores de Aleluia

 
 
 
 
 
Para o Maracatu Baque Alagoano, a Semana Santa é vivida de uma maneira especial. Em 2009, Júlio César – sócio fundador do grupo – idealizou o projeto Tambores de Aleluia, que além de resgatar uma tradição, oferece oportunidade de diversão e cultura às crianças da comunidade da favela do Jaraguá.

O público alvo são cerca de 40 crianças entre seis e doze anos, que além da apresentação do Baque Alagoano e de grupos convidados, também participam de diversas atividades lúdico-educativas, juntamente com os integrantes do Baque.

Levamos diversas brincadeiras como: corda, pula-pula, corrida de saco, além de pipoqueiro, algodão doce, lanches, doação de brinquedos, doação de livros, leitura de histórias, entre outras atividades.
 
 
 
 
 
 
O evento Tambores de Aleluia também existe em outros estados do Brasil, em especial no Maranhão, onde essa tradição é centenária. De acordo com essa tradição, os tambores silenciam na Quinta-feira Santa e na Sexta-feira da Paixão, em respeito ao calendário cristão católico, já no Sábado de Aleluia, os grupos se encontram e realizam apresentações, voltando a tocar em seus tambores.

Esse projeto tem o objetivo principal de afastar as crianças da marginalidade e de desenvolver com elas uma atividade sócio-cultural. Mesmo sendo uma ação pontual, o grupo tem a certeza do benefício futuro daqueles que participam desse evento. Todos estão convidados a participar dessa atividade, inclusive o grupo está recebendo doações, que pode ser de brinquedos, livros, entre outros e também pode ser doações em dinheiro.

PROGRAMAÇÃO:

Início do Evento – 14:00 Horas
Brincadeiras, distribuição de pipoca, algodão doce, picolé – das 14:00 às 15:30
Confecção do Judas – das 15:30 às 15:50
Apresentação dos Meninos da Vila – 16:00 horas
Apresentação do Maracatu Baque Alagoano – 16:30 horas
Lanche e distribuição de presentes – 17:00 horas
Malhação do Judas e Encerramento – 17:30 horas

SERVIÇO:

TAMBORES DE ALELUIA
ONDE: PRAÇA DOIS LEÕES – JARAGUÁ (EM FRENTE AO MUSEU DA IMAGEM E DO SOM)
QUANDO: DIA 07/04
HORÁRIO: A PARTIR DAS 14:00 HORAS
CONTATOS: Marcelo Melo (82) 9114-2914; Rose Mendonça (82) 9334-6740; Carminha Medeiros (82) 9938-0022. E-MAIL: baquealagoano@gmail.com
 
 
 

Um Método Perigoso




SINOPSE:

O fascinante diretor David Cronenberg (Senhores do Crime) revela um episódio pouco conhecido mas muito marcante na vida dos dois mais importantes psicólogos de todos os tempos. O jovem psicanalista Carl Jung (Michael Fassbender) começa um tratamento inovador na histérica Sabina Spielrein (Keira Knigthley) sob orientação de seu mestre, Sigmund Freud (Viggo Mortensen). Disposto a penetrar mais afundo nos mistérios da mente humana, Jung verá algumas de suas ideias se chocarem com as teorias de Freud ao mesmo tempo em que se entrega a um romance alucinante e perigoso com a bela Sabina.
ELENCO:

Keira Knightley ... Sabina Spielrein
Viggo Mortensen ... Sigmund Freud
Michael Fassbender ... Carl Jung
Vincent Cassel ... Otto Gross

FICHA TÉCNICA:

Título Original: A Dangerous Method
Título no Brasil: Um Método Perigoso
País: Reino Unido/Alemanha/Canada/Suécia
Duração: 99 min
Gênero: Biografia/Drama/Thriller
Diretor: David Cronenberg