quarta-feira, 20 de junho de 2012

A vida segundo Luiz Gonzaga


O cheiro de milho assado e o calor das fogueiras em chamas são comuns durante o mês de junho, especialmente no Nordeste brasileiro. Além do pipoco das bombinhas, o povo nordestino aprecia durante essa época outro som peculiar: é o encontro entre o choro da sanfona, o agudo do triângulo e o grave da zabumba, que faz soar os ritmos de um gênero musical tipicamente nordestino, o forró, também conhecido como arrasta-pé e bate-chinela.

As festas juninas de 2012 terão uma característica especial, pois em 13 de dezembro desse ano fará um século que nasceu Luiz Gonzaga do Nascimento, uma das mais importantes e inventivas figuras da música popular brasileira. Pernambucano nascido numa humilde fazenda no sopé da Serra de Araripe, em Exu, Luiz Gonzaga ultrapassou as fronteiras da sua terra natal, apresentando e difundindo a música nordestina a outras regiões do país.

Ao estilizar, recriar e popularizar a musicalidade nordestina, Gonzaga recebeu o posto de Rei do Baião – um dos principais ritmos do forró, seguido pelo xaxado e o xote. “Dentre aqueles gêneros diretamente criados a partir da matriz folclórica, está o baião e toda a sua família. E da família do baião Luiz Gonzaga foi o pai”, escreveu o músico brasileiro, Gilberto Gil, no prefácio da biografia Vida do Viajante: a Saga de Luiz Gonzaga, de Dominique Dreyfus. Nele, Gilberto ainda admitiu ser “um discípulo e devoto apaixonado do grande mestre do Araripe”.

Além de Gilberto Gil, o legado de Luiz Gonzaga influenciou nomes da MPB como Geraldo Vandré, Caetano Veloso, Gal Costa, Hermeto Paschoal, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Belchior, Fagner e até o cantor e compositor Raul Seixas, considerado um dos pioneiros do rock brasileiro.

Ao decolar com sua Asa Branca, canção emblemática composta em 1947, em parceria com o cearense Humberto Teixeira, Luiz Gonzaga consagrou o “sertão musical” do Nordeste nos centros urbanos, onde sobreviveu e renovou-se, enriquecendo seu dom em parceria com músicos e poetas que encontrava pelo caminho. “Atingi praticamente todas as camadas sociais, cassinos etc., mas nunca me empolguei pela cidade grande e a saudade do Nordeste sempre foi eterna”, admitiu um Luiz Gonzaga enfermo, “derrubado” pela osteoporose, em entrevista concedida ao jornalista Marcos Cirano e ao fotógrafo Pedro Luiz em 17 de outubro de 1988, nove meses e 16 dias antes da morte do Rei do Baião.

“Estivesse onde estivesse: no Noroeste, no Oeste, no Sul, em São Paulo ou no sul do Sul. Aonde eu ia, encontrava as colônias nordestinas”, disse Gonzaga durante a entrevista, completando: “Saudosas colônias sem administração, sem mando, furando novas – vamos dizer assim –, procurando se apossar de um pedacinho de terra, um meio de vida melhor”. Ele ainda afirma que cantava para esse povo, lá onde estivessem, as canções mais bonitas, as mais fortes, as mais tristes e que faziam todo mundo chorar: “Meu objetivo não era esse, mas acontecia. Às vezes, eles choravam com uma coisa alegre que eu cantasse”.

Cantando um Nordeste para pessoas como ele, que viviam longe de suas raízes, Gonzaga transformou-se em um estilo, em um repertório que conquistou o país e não enfraqueceu seu ardor até os dias de hoje. “Hoje, graças a Deus, bem sucedido, menos com a saúde, continuo cantando com graça o meu forró”, de fato, ainda que não esteja presente em “carne e osso”, ele resiste ao tempo e permanece vivo na memória do povo brasileiro, por meio de gravações, um museu e outras vozes.


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